sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Mostra de Cinema de SP 2009

“O orçamento ideal do evento é de cerca de R$ 5 milhões. Para se ter uma
idéia do que se move atrás das telas, basta dizer que a contratação da
equipe, de cerca de 400 pessoas, consome R$ 1 milhão. O transporte de filmes
e a mini-estrutura montada nos aeroportos custa R$ 350 mil. Legendas e
tradução não saem por menos de R$ 200 mil.”

1.000.000,00 +

350.000,00 +

200.000,00 = TOTAL: 1.550.000,00

Temos 3.450.000,00 para aluguel, telefone, transporte, hotel, alimentação, prêmios (não sei se há prêmios em dinheiro). E outras “coisitas mais!” Não é muita grana?

Apenas alguns filmes têm entrada franca. Se a mostra mobiliza um público de 200 mil pessoas, vamos imaginar que apenas 50% dessas pessoas pagam ingressos. Que cada uma dessas 100 mil pessoas irão pagar para ver 2 filmes. Suponhamos que o ingresso seja 10,00.
100.000 X 20,00 = TOTAL = 2.000.000,00

Vamos fazer um outro cálculo.Existem pacotes para baratear o ingresso. Vamos imaginar que 30% dessas 200 mil pessoas vão pagar o pacote mais barato: 20 filmes 165,00.
60.000 X 165,00 = TOTAL = 4.950.000,00

Claro que esses números são apenas hipotéticos, a entrada de dinheiro deve ser muito maior, o valor do permanente integral é 390,00.

Outro ponto: Mais de 400 títulos. Quem conseguiria ver METADE desses filmes em 14 dias? Não é melhor uma mostra MENOR, onde o custo cairia e as pessoas poderiam ver mais filmes? E o público de cada filme conseqüentemente seria maior?
Os imprevistos que tantam chateam o público seriam reduzidos...

Essa mostra lembra muito um certo Festival de Curitiba...

“A mostra, que começou miúda, em 1977, com 16 longas-metragens, no Museu de
Arte de São Paulo (Masp), ocupa hoje 17 salas e mobiliza um público de 200
mil pessoas. E por que, ainda assim, não tem a existência plenamente garantida? "Será que o poder público acha mesmo que a cultura é importante?", pergunta, em vez de responder, Cakoff.”

Eu pergunto: _ Porque não usam parte do dinheiro gerado com a bilheteria para manter a Mostra? A Mostra é um sucesso a 33 anos e ainda não criou condições de “andar sozinha?”. Será que essas pessoas que vivem “mamando” nas Leis de Incentivo acham mesmo que a cultura é importante?

Eloah


22/10/2009 - 07h33 Incertezas sobre patrocínio rondam a Mostra de Cinema,
que começa amanhã

*ANA PAULA SOUSA*
da *Folha de S.Paulo*

Todo ano eles fazem tudo sempre igual. Trocam e-mails e telefonemas com
produtores do mundo todo. Encaixam e desencaixam filmes da programação.
Tentam revelar produções que o mercado ainda não encampou. Erguem uma
estrutura que, a despeito dos 33 anos de vida, parece estar sempre à espera
do primeiro tijolo para voltar a ficar de pé. Mas todo ano eles fazem tudo
sempre igual: arriscam. E, no fim, espalham centenas de filmes pelas telas
da cidade.
Rafael Hupsel/Folha Imagem [image: Latas de alguns filmes que estão
guardados no Conjunto Nacional, à espera do início do maior evento
cinematográfico da cidade, que completa 33 anos e terá mais de 400 títulos
em exibição] Latas de alguns filmes que estão guardados no Conjunto
Nacional, à espera do início do maior evento cinematográfico de São Paulo

"É uma operação que começa no escuro", diz Renata Almeida, diretora da
Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, ao lado do marido, Leon Cakoff.
"No começo deste ano, tivemos que apelar para empréstimos pessoais para
tocar a produção. Eu dizia: "Vamos fazer do tamanho que der". Sem
patrocínio, a gente para." Deu para fazer do tamanho de sempre. Tamanho G. O
evento, que será aberto hoje no Auditório Ibirapuera, com uma sessão para
convidados de "À Procura de Eric", de Ken Loach, reúne cerca de 400 títulos
e dezenas de convidados nacionais e internacionais.

Antes da festa, houve o sufoco. "Neste ano, foi atípico. Havia a expectativa
da mudança da Lei Rouanet e, além disso, todos os dias a palavra crise
aparecia nos jornais", diz Cakoff. "Já fizemos a mostra sem estrutura, mas
voltar ao que era seria injusto. Há certas coisas, como a falta de legendas
em português, que o público nem aceitaria mais."

O orçamento ideal do evento é de cerca de R$ 5 milhões. Para se ter uma
ideia do que se move atrás das telas, basta dizer que a contratação da
equipe, de cerca de 400 pessoas, consome R$ 1 milhão. O transporte de filmes
e a mini-estrutura montada nos aeroportos custa R$ 350 mil. Legendas e
tradução não saem por menos de R$ 200 mil.

Em algumas edições, um só patrocinador, a Petrobras, chegou a bancar boa
parte do que era preciso para fazer a engrenagem girar. Mas, desta vez,
foram mais diversificadas as fontes. A Adidas, que havia colado sua marca ao
evento em 2008, aparece como copatrocinadora. A Prefeitura de SP, a Faap e o
Itaú-Unibanco aparecem como principais apoiadores.

"No fim, o resultado foi ótimo. Mas terminamos o primeiro semestre sem ter
nada garantido", conta Almeida. A Petrobras, por exemplo, já tinha acertado
o patrocínio, mas, por uma série de dificuldades burocráticas relacionadas à
Lei Rouanet, o dinheiro, simplesmente, não era liberado. O Unibanco,
tradicional apoiador, também teve de rediscutir suas ações após a fusão com
o Itaú.

E como tocar uma produção a zero? "É meio jogo de pôquer", brinca Renata
Almeida. "Mas não dá mais para ser assim. Precisamos do mínimo de garantia.
Já ouvi empresários dizerem que, se não houver mais o abatimento de 100% de
imposto na Lei [Rouanet], não vão investir."

Uma lei estipula a ajuda do município ao evento, mas nem isso é seguro.
Historicamente, a lei, simplesmente, não era cumprida. "O [Gilberto] Kassab
declarou, publicamente, que apoiaria a mostra. Mas a lei, até então, não
tinha sido cumprida por ninguém, de Luiza Erundina a Marta Suplicy, passando
pelo Paulo Maluf e pelo Celso Pitta", diz Cakoff.

A mostra, que começou miúda, em 1977, com 16 longas-metragens, no Museu de
Arte de São Paulo (Masp), ocupa hoje 17 salas e mobiliza um público de 200
mil pessoas. E por que, ainda assim, não tem a existência plenamente
garantida? "Será que o poder público acha mesmo que a cultura é
importante?" , pergunta, em vez de responder, Cakoff. "Chamar de herói e
elogiar não paga as contas. No fim, deu tudo certo. Mas é desgastante
trabalhar com a incerteza."

22/10/2009 - 08h35
Incidentes de última hora são rotina na Mostra de Cinema

*ANA PAULA SOUSA*
da *Folha de S.Paulo*

Premiado em edições anteriores da Mostra Internacional de Cinema de São
Paulo, o diretor iraniano Bahman Ghobadi era presença garantida no evento
até que, da noite para o dia, deixou de responder aos e-mails dos
organizadores. Ressurgiria às vésperas do início da Mostra. Com novo e-mail
e nova residência. Preso no Irã, por "excesso de crítica", o diretor
conseguiu escapar para Nova York. Ganhou um "green card" e virá ao Brasil.
Por um triz, seu filme "Ninguém Sabe dos Gatos Persas" não ficou de fora.

Convidados para apresentar o documentário "Inferno", sobre o cineasta
Henri-George Clouzot (1907-1977), na primeira semana da Mostra, os diretores
Serge Brombert e Ruxandra Medrea tiveram de desfazer as malas. O Festival de
Chicago, de onde o filme viria, danificou a cópia. "Inferno" ficou fora da
programação.

É assim, com peças que aparecem e desaparecem, que se monta o quebra-cabeça
do maior evento cinematográfico de São Paulo. A organizar o jogo, está uma
equipe de cerca de 40 pessoas que tem virado noites num prédio de três
andares numa rua paralela à avenida Paulista. Há, ainda, o batalhão que se
divide por hotéis, salas de cinema e pela Central da Mostra, no Conjunto
Nacional.

A reportagem da *Folha* passou uma tarde no escritório central. Tratava-se
do último dia para a tomada de uma série de decisões, pois o catálogo estava
sendo finalizado. "Tem que arrumar o logo da Faap", dizia um. "O Maradona
vem. Precisa mudar a data do filme", dizia outro, inquieto. Depois de
minutos parada à porta da sala de Leon Cakoff, com medo de interrompê-lo no
instante errado, uma moça exibe a fitinha dos crachás e credenciais. "Não
tem o ano", observa, contrariado, Cakoff. "Mas tem a cara do ano, Leon. Tá
boa", contemporiza Renata Almeida. Ao se dar conta do quê surreal do
diálogo, ela autoironiza: "Somos pouco centralizadores, né?"

"Ah, mas aqui acontece o inimaginável. Você acredita que a gente convidou o
Roman Polanski antes dessa confusão toda?" Mas o relato sobre a prisão do
cineasta é interrompido: "Oi, quais são as salas gratuitas mesmo?", pergunta
alguém.

Enquanto conversava com a *Folha*, Almeida folheava o catálogo do ano
passado para escolher os filmes que serão exibidos gratuitamente no Masp.
Cakoff revisava o texto com a "instrução de uso dos pacotes promocionais" .
Também estavam ambos atentos aos e-mails com as últimas versões da vinheta
musicada por André Abujamra, a partir do desenho da dupla de artistas
Osgêmeos, autores do cartaz desta 33ª edição do evento.

Mais atribulado que a sede da Mostra é um outro cenário: o aeroporto de
Cumbica. Se os filmes falassem, teriam muito a contar. Há, primeiro, os
problemas prosaicos. A cópia de "O Mundo Imaginário de Dr. Parnassus", de
Terry Gilliam, exibido na entrevista coletiva sobre o evento, ficou presa no
aeroporto Santos Dumont por causa da chuva. Teve de vir para São Paulo pela
rodovia Presidente Dutra. Mas o perigo de verdade mora na alfândega.

São antigas as queixas aduaneiras de Cakoff. Recentemente, ele participou da
elaboração de uma instrução normativa para o trânsito de bens culturais que,
em tese, tornou tudo mais simples. Mas incidentes acontecem. O filme "Le
Voyage du Ballon Rouge" foi vítima de um deles. Seu documento de importação
foi preenchido em inglês, "Flight of the Red Balloon". Mas o filme viajou de
volta com o nome original, em francês. "Juntamos documentos apontando os
dois títulos, mas não adiantou. Tivemos que pagar multa", conta Cakoff.

*Quase um pesadelo*

Os filmes presos no aeroporto são, às vezes, aqueles que têm as datas
alteradas na programação. Mas não só eles. A logística de títulos e salas
envolve desde formato e classificação etária até data de estadia dos
diretores na cidade e os debates previstos. Criado por um técnico
especializado, o sistema, não raro, tropeça na própria complexidade. "É
quase um pesadelo", define Almeida, que coordena o entra e sai de títulos.
"E o público, com razão, ficou mais exigente."

Também com razão, o público ainda reclama das dificuldades para comprar
ingressos, dos atrasos nas sessões e do troca-troca de filmes que, vira e
mexe, acontece. Se não há mais os filmes falados em inglês com legenda em
russo --fato episódico que virou a piada pronta da mostra--, há, ainda,
alguns problemas que nem a tecnologia nem os anos de experiência conseguiram
resolver. "Infelizmente, os imprevistos pipocam", justifica Cakoff.
Arte/Folha de S.Paulo

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